PROGRAMAS  DE CAMINHADAS ("Caminhar c'a Gente") Maio-Junho 2013
PRÉ-INSCRIÇÕES TELEF. 967694816 / 223324001 até DOIS DIAS antes da atividade. No caso de atividades que englobam acantonamento em tenda*numa ou várias noites, inscrição obrigatória na n/sede ATÉ uma semana antes.



DOM. 26 Maio       ATIV.3.6 -Trilha de Descoberta do projeto do "Parque Oriental do Porto “ 
Descrição: Percurso começando no Freixo e percorrendo tanto os terrenos inicialmente destinados a este projeto, na margem esquerda do "rio"Tinto, como nas imediações do "rio" Torto, regressando à zona do Freixo.
 Encontro às 10.00 h. na n/sede – Deslocação em Metro para Campanhã


*SEXT.(noite),SÁB.-DOM. 7, 8 e 9 de Junho    ATIV. 3.5 -Trilha da Aventura /Grande Marcha  -através da antiga "GR-1"Belói-Rio Mau"
 
Descrição: Percurso c/ bivaque em tenda entre Belói (Gondomar) e Rio Mau (Penafiel) através de antigo trilho (marcado em 1981), bastante esquecido e semi-abandonado (Alvre,Santa Comba, Banjas, Saída c/ marcha noturna na sexta-feira à noite. Na segunda noite: margens da ribeira de Santa Comba .
 Encontro às 21.00 h. na n/ sede e início do percurso às 22.30 h. em Belói/Gondomar


*DOM. 16 Jun.    ATIV.3.7 -Trilha de Descoberta eco-social de Monte Córdova  
 (a repetir em  Set.)

Descrição: Percurso de cerca de 10 Km. em volta da povoação de Monte Córdova (Santo Tirso), através de pontos que nos mostram a sua ecologia, a situação da sua população e a sua história.
Partida do Carvalhal de Valinhas, em Monte Córdova,  às 10 h.da manhã , c/ almoço volante pelo caminho (atividade a desenvolver no âmbito do nosso “Acampamento do Solstício 2013” de  14 a 16 Jun.)


 DOM.30 Jun.     ATIV.3.10 -Trilha de Descoberta da zona de Santa Cruz do Bispo e vale do Leça (Rio Leça, Ponte do Carro, Monte São Brás )

Descrição: Percurso construído sob a forma de "jogo de descoberta". Encontro na n/ sede no Porto , às 9.30 , saída no Metro para ESPOSADE e regresso cerca das 18.00 h.

NOTA:
 O local de Monte São Brás é também um ponto de referência na história social "mais recente" do Porto:  antes do 25 de Abril, em 1970, ocorreu aqui um encontro e acampamento de jovens, de diferentes proveniências ideológicas, mas  que se opunham à ditadura fascista-marcelista. Por isso estamos a pensar -ou nesta altura, fim de Junho próximo, ou posteriormente - assinalar  esse acontecimento com um *ENCONTRO/ACAMPAMENTO de ANTIGOS PARTICIPANTES com JOVENS de HOJE, no mesmo local, no sentido de passar ao pessoal mais novo, testemunho desses tempos, com descrições vivas de participantes de então.

Esse encontro de 1970, apesar da vigilância da PIDE e de outros agentes repressivos, marcou também  o início de uma série de novos núcleos de jovens que se mobilizaram contra a ditadura e a guerra colonial, tendo muitos deles pago essa ousadia, pouco tempo depois, com perseguições e prisões ...

Daí a importância deste possível encontro INTER-GERACIONAL neste local.

Em breve adiantaremos mais notícias.

J.R.P.







Memórias Verdes  
ou testemunhos eco-sociais do Porto

Iniciamos neste blog, neste mês de Maio do ano da “crise” de 2013, uma série de textos reportando vários locais e antigas “manchas verdes” do chamado Grande Porto, tantos deles hoje desaparecidos,  tragados por um conceito de “desenvolvimento” e de “crescimento” que é o oposto ao que os conceitos libertários da ECOLOGIA SOCIAL –de cujos princípios básicos nos reivindicamos-  defendem.
Longe de qualquer espécie de revivalismo reacionário (o “dantes é que era bom” ou o “oh tempo volta p´ra trás”…) pretende-se sim avivar a memória e alertar os presentes – nomeadamente os jovens de hoje- sobre tudo aquilo que a sede de lucros fáceis de alguns,  a demência “desenvolvimenteira” dita “planificadora” dos do alto dos poderes centrais, regionais e locais do Estado e a cegueira e a falta de horizontes sociais-ecológicos de muito mais gente, produziu de DESTRUIÇÃO e de DEGRADAÇÃO DA VIDA também NESTA REGIÃO. E, nomeadamente, alertar que este atual caminho que trilhamos (ou que os poderes do dinheiro e da política nos fazem trilhar), não são irreversíveis e que há mais vida – a viver individualmente e a defender coletivamente  – para além, muito mais para além, de congressos, simpósios, seminários, cátedras,  encontros de “experts”, campanhas (hipócritas) pelo “ambiente”, e de todas as formas como os senhores do Poder e do Dinheiro tentam separar as QUESTÕES AMBIENTAIS da velha e permanente QUESTÃO SOCIAL (as desigualdades, as dominações e explorações de uma minoria da sociedade humana sobre a outra parte maioritária)…E muito para além também, da forma como os mesmos tentam oferecer-nos o “ambiente-mercadoria”, a “natureza-mercadoria”, como um produto acabado para venda e bons ganhos de alguns e não afinal, como ELEMENTO ESSENCIAL – que NÃO PODE SER MERCADORIA ! - para o disfrute de toda a Humanidade em harmonia com o resto do planeta e com os demais seres e componentes necessários à VIDA de TODOS .
Ao longo destas mesmas crónicas-memoriais sobre esta região, baseados em alguns testemunhos pessoais, iremos comparar o ONTEM e o HOJE , à distância de 20, 30, 40, 50  anos , de algumas zonas  de MATOSINHOS, GAIA, MAIA, SANTO-TIRSO, PAREDES, RECAREI, GONDOMAR, VILA DO CONDE, entre outras . E logicamente não faremos apenas “crónicas de destruição” mas também reportaremos aquilo que ainda se encontra, aqui e além, mais preservado e que carece da nossa própria mobilização para que assim continue –ou para que melhore ainda. Aliás é também no sentido de avivar a ideia de que “nem tudo está perdido” que vos convidamos a acompanhar-nos no nosso programa de passeios pedestres mensais “Caminhar com a Gente” (ver noutro local deste Blog) que em alguns fins de semana nos levará à descoberta de muitos dos locais e áreas aqui descritos.
Independentemente da possibilidade de editarmos estes testemunhos e de acerca deles podermos vir a animar algumas palestras-vivas em algumas noites na nossa sede no Porto, será sobretudo pelo contacto direto e vivo com esses locais que a consciência e a vontade atuante poderão despertar em cada um/a de nós. É também esse o  nosso desafio.

J.R.P.

  I - OS PINHAIS DA BOA-NOVA

Eram autêntico pequeno paraíso para muitas famílias e jovens, que vinham passar  ali fins de semana e longos dias do Verão. Havia quem viesse carregado de mochila às costas e tenda, do Porto, por  Leça da Palmeira, pela estrada junto à praia e perto do farol da Boa-Nova. Muitos vinham também ali pela Amorosa e Rua da Almeiriga, junto à (ainda existente) Adega Amarela -que na altura durante a semana servia almoços a muitas trabalhadoras e trabalhadores das várias antigas fábricas de conservas.
Croquis (de memória) de como era o pinhal da Boa-Nova e o
caminho para a praia antes da construção da Petrogal  (com
a tal rocha que se menciona no texto)
Entrava-se naquela área por um pequeno caminho nas dunas então existentes, bordejadas de altos pinheiros. Na continuação do caminho, havia um velho rochedo que era sempre ponto obrigatório de brincadeira dos mais novos, emergindo da areia e dos cardos e vegetação rasteira dunar, a meio do carreiro que levava à praia da Boa-Nova, por entre acácias e canaviais.  Alguns lavradores dedicavam-se também naquele local à extração de resina dos pinheiros e vendiam também os troncos das árvores, arrancando por vezes as raízes do solo arenoso e deixando buracos que se enchiam de água das chuvas e formavam pequenos nichos ecológicos - onde na Primavera apareciam várias espécies de anfíbios, sobretudo relas e tritões-  que eram ponto de curiosidade e de estudo de alguns biólogos, entre eles um belga, que morava na Foz.  Ao lado, já no fim da rua da Almeiriga e perto do Cabo do Mundo, existia também um pequeno parque de campismo, com algumas bocas de água potável, onde muita gente mais velha, amante do ar livre, acampava ou passava longos domingos.



Charca no Mindelo, semelhante às que existiam onde hoje está
a Petrogal...
A zona era um pouco semelhante a muitas zonas desde Aveiro até ao Minho, com pinhais costeiros e dunas – um tanto parecidas com parte da atual zona do Mindelo, a Sul de Vila do Conde. Mas o facto de se localizar perto do Porto e de Matosinhos fazia dela zona privilegiada de acampamentos e outros programas de aventura e ar livre de grupos e associações juvenis, nomeadamente escoteiros e escutas.  Por vezes também, na altura das férias da páscoa e do Verão, lá apareciam aqueles grandes grupos de rapazes de camisa verde escura da antiga organização obrigatória salazarista, a “Mocidade Portuguesa”, com a sua estrutura e atividades para-militares e cânticos nacionalistas… Mas também apareciam grupos de jovens que “por gozo” desfraldavam, na rocha junto ao caminho, uma “bandeira pirata” e se entretinham de noite a pregar partidas a elementos daqueles grupos (descrição do “Brasileiro”, antigo trabalhador de armazém das conservas de Matosinhos).