A MISÉRiA AINDA MATA NA ZONA HISTÓRICA DO PORTO
O caso do “Toni”: Janeiro de
2017 Antero Pina, conhecido como “Toni”, cabo-verdiano de 71 anos,
ex-mineiro no Pejão e na Panasqueira, sem-abrigo (a não ser precário),
andava desaparecido desde o princípio do ano, dos locais habituais onde
parava. Albergado temporariamente numa dependência da Terra Viva
(associação de ecologia social ) na rua da Vitória, de que tinha a chave e
onde tinha uma cama, roupa e um pequeno fogão camping-gás, esperava agora que
alguns problemas se resolvessem, nomeadamente o seu possível acesso a uma
pensão de reforma (já que tinha trabalhado em Portugal desde 1973)e a possível
instalação num quarto de uma pensão na proximidade – já que o seu estado de
saúde já não lhe permitia grandes caminhadas. Ultimamente só conseguia andar
com a ajuda de uma “canadiana”.

Depois de várias tentativas
para o encontrar, finalmente veio a má notícia: o Antero fora entretanto
encontrado caído na rua, desacordado, ferido na cabeça, e levado para a
urgência do Hospital de Santo António, faleceria alguns dias depois… Como não
tinha consigo na altura qualquer identificação, não nos deram qualquer
informação quando lá a tentámos obter…
Inicialmente abrigado num
edifício vazio na Rua dos Caldeireiros de onde acabaria por ser despejado pelo
proprietário, o Antero durante dois anos andou a deambular por aí, chegando a
ter sido albergado numa pensão na Rua 31 de Janeiro – de onde foi mandado
embora por ter tentado cozinhar no quarto – e não chegou a ir para a pensão do
Carregal (que tinha sido contactada por nós e pelo SAOM ) porque lá “não
admitiam a entrada a pretos”(…!) facto que denunciámos publicamente na altura.
Neste caso a MISÉRIA teve também os nomes de RACISMO a somar ao da usual
BUROCRACIA institucional…
18 de Março 2016 : O caso do
Manuel Coelho, antigo mineiro nas lousas em Valongo, um dos cerca de 40
“sem-abrigo” que em 2010 tinham ocupado o então abandonado e semi-arruinado
“Mercado do Anjo” (onde é agora o centro comercial dos Clérigos) tinha
regressado há pouco de Espanha por onde tinha tentado arranjar algum trabalho.
Não o tendo conseguido, voltou ao Porto e em meados de Janeiro de 2016
abrigou-se inicialmente com outros amigos numa antiga “ilha” da Rua dos
Caldeireiros, de onde acabou por sair para uma casa abandonada perto do jardim
da Cordoaria. Uma noite de Março, ao passar
pelo centro comercial dos Clérigos teve uma discussão com um dos seguranças
da “Líder” que o atacou violentamente. Em resultado disto foi parar à urgência
do Hospital de Santo António onde veio a morrer das pancadas que recebera na
cabeça…