A MISÉRiA AINDA MATA NA ZONA HISTÓRICA DO PORTO

O caso do “Toni”: Janeiro de 2017 Antero Pina, conhecido como “Toni”, cabo-verdiano de 71 anos, ex-mineiro no Pejão e na Panasqueira, sem-abrigo (a não ser precário), andava desaparecido desde o princípio do ano, dos locais habituais onde parava. Albergado temporariamente numa dependência da Terra Viva (associação de ecologia social ) na rua da Vitória, de que tinha a chave e onde tinha uma cama, roupa e um pequeno fogão camping-gás, esperava agora que alguns problemas se resolvessem, nomeadamente o seu possível acesso a uma pensão de reforma (já que tinha trabalhado em Portugal desde 1973)e a possível instalação num quarto de uma pensão na proximidade – já que o seu estado de saúde já não lhe permitia grandes caminhadas. Ultimamente só conseguia andar com a ajuda de uma “canadiana”.
Quando no início de janeiro tentámos falar com ele na Terra Viva, já que tínhamos recebido a informação da técnica da instituição que também o apoiava (SAOM) de que finalmente tinham conseguido arranjar-lhe um quarto numa pensão, percebemos que já há alguns dias não dormia no sítio habitual e resolvemos lançar um apelo num folheto que distribuímos para que nos pudessem informar do seu paradeiro. Também contactámos na altura as urgências dos hospitais do Porto mas não havia registada qualquer entrada em seu nome. Tínhamos conseguido obter-lhe o passaporte no Consulado de Cabo-Verde no Porto, tínhamos guardado o original para que não o perdesse e tínhamos-lhe passado uma fotocópia do mesmo, além de termos contactado com Cabo-Verde para que lhe enviassem um atestado de registo criminal ( o que conseguimos) sem o qual ele não poderia ter acesso aqui a medidas de apoio social a que teria direito.
Depois de várias tentativas para o encontrar, finalmente veio a má notícia: o Antero fora entretanto encontrado caído na rua, desacordado, ferido na cabeça, e levado para a urgência do Hospital de Santo António, faleceria alguns dias depois… Como não tinha consigo na altura qualquer identificação, não nos deram qualquer informação quando lá a tentámos obter…
Inicialmente abrigado num edifício vazio na Rua dos Caldeireiros de onde acabaria por ser despejado pelo proprietário, o Antero durante dois anos andou a deambular por aí, chegando a ter sido albergado numa pensão na Rua 31 de Janeiro – de onde foi mandado embora por ter tentado cozinhar no quarto – e não chegou a ir para a pensão do Carregal (que tinha sido contactada por nós e pelo SAOM ) porque lá “não admitiam a entrada a pretos”(…!) facto que denunciámos publicamente na altura. Neste caso a MISÉRIA teve também os nomes de RACISMO a somar ao da usual BUROCRACIA institucional…

18 de Março 2016 : O caso do Manuel Coelho, antigo mineiro nas lousas em Valongo, um dos cerca de 40 “sem-abrigo” que em 2010 tinham ocupado o então abandonado e semi-arruinado “Mercado do Anjo” (onde é agora o centro comercial dos Clérigos) tinha regressado há pouco de Espanha por onde tinha tentado arranjar algum trabalho. Não o tendo conseguido, voltou ao Porto e em meados de Janeiro de 2016 abrigou-se inicialmente com outros amigos numa antiga “ilha” da Rua dos Caldeireiros, de onde acabou por sair para uma casa abandonada perto do jardim da Cordoaria. Uma noite de Março, ao passar  pelo centro comercial dos Clérigos teve uma discussão com um dos seguranças da “Líder” que o atacou violentamente. Em resultado disto foi parar à urgência do Hospital de Santo António onde veio a morrer das pancadas que recebera na cabeça…


Outros casos anteriores
De entre os “sem-abrigo” que tinham participado em 2010 na “ocupação” das ruínas do antigo Mercado do Anjo, pelo menos 3 acabaram por morrer na rua (um deles abandonado no que restava daquelas ruínas, antes das obras de renovação do local), já que os apoios sociais a que teoricamente teriam direito nunca chegaram a funcionar verdadeiramente ou a ser-lhes acessíveis. Não deveremos esquecer que grande parte destas pessoas são atingidas por hábitos de alcoolismo e de consumo de drogas- único escape que conseguem à miséria da vida que têm – e que na maioria dos casos, as instituições ditas de “solidariedade social” aqui existentes na zona histórica e central do Porto não têm pessoal profissional suficiente, preparado e à altura de lidar com este tipo de população carenciada – que necessita mais de relações de fraternidade, apoio mútuo e de compreensão do que de “bitaites”e sentenças muito “técnicas” atiradas do alto do cavalo…
POSSÍVEIS SOLUÇÕES?...
Para que não mais pessoas morram ao abandono pelas ruas como o “Toni”, o Manuel e tantos outros, a solução não será certamente contar apenas com VOLUNTÁRIOS… Mas TAMBÉM! Há em muitos locais, instituições, associações, grupos informais, entre os vizinhos, pessoas mais sensíveis às dores das restantes, que organizando-se, relacionando-se, como uma REDE LOCAL DE SOLIDARIEDADE POPULAR, poderão ser muito mais eficientes no apoio às demais do que algumas estruturas e organizações cujo principal objetivo parece ser mais mascarar a realidade, esconder a pobreza e servir-se dela do que servir verdadeiramente a causa dos mais pobres e necessitados.
DAÍ ESTE COMUNICADO TRAZIDO ATÉ VÓS PARA QUE NOS POSSAM CONTACTAR E POSSAMOS EM CONJUNTO LEVAR À PRÁTICA ESTA IDEIA.
Grupo de Trabalho Solidariedade Social da TERRA VIVA ! A.E.S - Associação de Ecologia Social
Porto, 16 de Janeiro-2017 Telem.: 961449268 /938896091 Telef.:223324001




Sem comentários:

Enviar um comentário