Não é de agora que
tudo isto se sabe…Não é de agora que de Norte a Sul secam poços, fontes,
jazidas de água, regatos… onde as celuloses converteram serras e zonas de
floresta autóctone (carvalho, azinheira, sobreiro, castanheiro, pinheiro
silvestre, freixo, amieiro…) em eucaliptais industriais, onde alteraram a
morfologia das serras, terraceando-as e convertendo-as em plantações de
eucaliptos, para bem dos gestores das multinacionais de celulose e pasta de papel…
Não é de agora que a aldrabice do “petróleo verde” se vem impondo neste país.
Em meados dos anos 80, as populações de Valpaços e
serra da Aboboreira, entre outras, levantavam-se contra a eucaliptização
forçada, “em terras de azeite e pão”, em alguns casos apoiadas por ativistas de
diferentes associações ecologistas e ativistas libertários, como em
Valongo e Gondomar.
Foto de Patrícia de Melo Moreira /AFP |
Atualmente, perante as ofensivas legislativas do
governo que pretende alargar ainda mais a zona de implantação do eucalipto,
torna-se ainda mais urgente a mobilização sócio-ecológica das populações. O
FOGO e a sua cortina de fumo encobrem interesses que visam substituir os
direitos constitucionais das populações a uma qualidade de vida e a um ambiente
ecologicamente equilibrado, pelo “desenvolvimento” das contas bancárias dos
“capitães de indústria“- sobretudo das celuloses” e grandes madeireiros.
O eucalipto, eucalyptus glóbulos, introduzido neste país em meados do sec.XIX
para secar e drenar pântanos, transformou-se numa praga destruidora da biodiversidade,
destruidora da floresta autóctone, destruidora dos recursos aquíferos e do
equilíbrio ecológico de regiões e da economia rural, sustentável e comunitária
de muitas populações. O alargamento da
sua expansão territorial – como os governantes pretendem – é a MORTE dos
ecossistemas e sistemas humanos mais ou menos harmoniosos ainda existentes.
Os fogos atuais que matam bombeiros e destroem aldeias
e montes não são os fogos de alguns criminosos isolados nem apenas, nem
principalmente. Pode-se detectar e deter as mãos incendiárias mas não se ousa deter a CABEÇAS que as comandam…
Por estes motivos, rendemos homenagem à coragem e
lucidez do articulista do JN do passado dia 29 Ag., que transcrevemos a seguir.
Para quem pretenda ter mais informação sobre estes
temas, temos na nossa BIBLIOTECA/ARQUIVO DOCUMENTAL documentação diversa que
pode ser consultada às terças e quintas-feiras , das 16 às 20.00 h. na nossa
sede (Rua dos Caldeireiros, 213 – à Cordoaria- PORTO
JRP
“Também exportamos bombeiros
Artigo de opinião de Daniel Deusdado
Extraído do Jornal de Notícias de 29/08/13
“Também exportamos bombeiros
Artigo de opinião de Daniel Deusdado
Extraído do Jornal de Notícias de 29/08/13
A superficialidade da análise do
primeiro-ministro não pode neutralizar a procura da responsabilidade pelas
mortes dos bombeiros e do alastrar de tantos incêndios. Porque Pedro Passos
Coelho tem razão em dizer que é precipitado e absurdo procurarem-se os culpados
em concreto, mas parecer ignorar que o Governo a que preside tem pronta uma
legislação que liberaliza a plantação de eucaliptos, deitando gasolina em cima
deste território despovoado, desertificado e pronto a arder que é Portugal.
Se o primeiro-ministro tivesse um
pouco mais de profundidade no que diz - e não apenas esta ligeireza endémica
que o caracteriza -, saberia que é possível uma resposta concreta e séria:
olhar para o território de outra maneira e travar este ciclo infernal de
plantação de espécies que tornam a floresta num barril de pólvora.
Porque, evidentemente, Pedro
Passos Coelho sabe que não é por acaso que o "Jornal de Negócios"
considera Pedro Queirós Pereira, presidente da principal holding das celuloses
portuguesas, a Semapa, como o 11.o homem mais influente de Portugal. As
celuloses instalaram em Portugal fábricas de tamanha capacidade que,
naturalmente, fomentaram o alastrar de povoamentos de eucaliptos que se
espalharam como uma doença. Não apenas por ser uma espécie de origem
australiana que atualmente já é invasora, ou seja, que se multiplica a si
própria e alastra como mancha de óleo, mas também porque foi muito fácil
seduzir os proprietários florestais a alinharem no cultivo de uma droga
natural: deixar os eucaliptos crescerem sozinhos e de sete em sete ou de dez em
dez anos mandar alguém cortá-los e receber um dinheiro certo (ainda por cima
pouco).
Porque, na nossa pobreza
endémica, restam poucas vias à maioria dos proprietários dos terrenos: ou se
vende o terreno às celuloses (e aí não há incêndios); ou se plantam eucaliptais
para lhes vender a seguir a matéria-prima; ou ficam abandonados até arderem e
chegar o eucalipto espontâneo. Mesmo a indústria da biomassa, que foi
"vendida" como solução para a limpeza das matas, falhou. Não há quem
vá buscar os resíduos da limpeza porque são volumosos e não chegam para
rentabilizar o custo do transporte.
Mandar limpar um hectare de mata
custa mais de mil euros. A maioria dos proprietários não quer ou não pode
gastar esse dinheiro. Aliás, vai fazê-lo para quê? Para repetir essa operação
de dois em dois anos a bem da nação? E se arder, qual é o problema, se as
árvores que estão no terreno não servem para quase nada? Portanto, que arda.
Diz o ministro da Administração
Interna que em parte é "natural" que a floresta arda. O que é verdade
- a floresta mediterrânica sempre ardeu de tempos a tempos como fator de
regeneração natural. Mas o drama destes incêndios do nosso tempo não é apenas o
fogo, é a sua velocidade. O eucalipto tem no fogo um amigo: ao arder propaga-se
cada vez para mais longe e ocupa o terreno das espécies naturais que não se
refazem com a mesma rapidez. Muitos destes fogos não são então "naturais".
São uma sucessão de erros governativos, década após década, no território.
Poderíamos ir atrás dos
teorizadores da indústria do petróleo verde do cavaquismo e da via para esta
monocultura florestal. No essencial, o modelo funciona - é um êxito - e há quem
aplauda exportarmos muito papel. Nessa medida, morrerem bombeiros é um dano
colateral, como em qualquer país subdesenvolvido morrer gente em atividades de
risco. Mau para as famílias das vítimas mas apenas uma circunstância de
negócios. Portugal vende floresta (e bombeiros). Com um orgulho anacrónico. A
Portucel já é a terceira maior exportadora nacional.
Mudar algo, sr.
primeiro-ministro? É melhor não perguntar ao seu novo ministro do Ambiente. Não
vá ele dizer-lhe que o melhor é desistir da ideia de liberalizar a plantação de
eucaliptos em qualquer área do país. Não vá acontecer daqui a 10 anos estarmos
a perguntar como arderam vilas inteiras, já despovoadas, rodeadas de
"desertos" de árvores sem ecossistemas, em cima de campos outrora agrícolas,
junto a leitos de rios com algas geradas por sucessivas vagas de cinzas. Um
país ainda mais miserável no interior e com cada vez com menos água limpa nas
cidades. Culpados, sr. primeiro-ministro? Não. Nenhum. Nunca. »
"Eucaliptofobia"?...Nem as absurdas imagens dos pobres koalas australianos, comedores de folhas de eucalipto, que acompanhavam as primeiras campanhas da eucaliptização portuguesa dos anos 80, nem a disseminação de uma praga anti-eucalipto, a forocanta, também nos anos 80, por alguns grupos que pretendiam defender as florestas autóctones, no norte do estado espanhol, tinham por móbil quaisqueres vagos sentimentos de EUCALIPTOFILIA ou EUCALIPTOFOBIA... O móbil da eucaliptização industrial é pura e simplesmente a sede de lucros fáceis dos "amantes da economia de mercado" (vulgarmente conhecida como CAPITALISMO). O móbil dos alguns eco-ativistas e populações em revolta era - e é- SUSTER A DESTRUIÇÃO ECOLÓGICA E DAS COMUNIDADES HUMANAS mais isoladas, destruição essa que o capitalismo promove com o fiel apoio do ESTADO e dos seus políticos de serviço. Como vai sendo sempre mais claro,o que ELE$ fazem à Terra fazem também aos seus habitantes, humanos e não humanos.
ResponderEliminarAté quando iremos deixar que mais bombeiros morram, que mais ecosistemas sejam destruídos, que as montanhas, os campos e aldeias ardam para que subam as taxas de lucro e aumente o poder dos de sempre - os tais a quem a"crise" não atinge?...
Mais umas eleições estão à porta...Mais promessas eternas aí vêm...
HÁ TANTA COISA PARA QUEIMAR EM VEZ DAS FLORESTAS!...
Romualdo R.